'Ainda espero o telefone tocar', diz pai de menino desaparecido há oito anos'

Garoto tinha 3 anos e meio quando sumiu em São Carlos (Foto: Arquivo Pessoal)
Menino desapareceu há 8 anos, quando brincava na rua com irmão em São Carlos (Foto: Arquivo Pessoal)
Oito anos após o desaparecimento de Lucas Pereira em São Carlos (SP), o pai do menino que na época tinha 3 anos diz manter a esperança de encontrar o filho vivo. “Ainda espero o telefone tocar”, desabafou o engenheiro aposentado Antônio Carlos Ratto, que chegou a oferecer uma recompensa de R$ 60 mil por qualquer informação que o levasse à criança. Nesta quarta-feira (25), Dia Internacional das Crianças Desaparecidas, ele falou ao G1 sobre como lida com a ausência do filho, as investigações da polícia, as buscas e dúvidas que ainda cercam o caso.
Envelhecimento garoto sao carlos (Foto: Polícia Civil de São Carlos)Em 2013, DHPP divulgou fotos de como Lucas
Pereira estaria (Foto: DHPP/Divulgação)
O desaparecimento ainda é investigado pelo Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), para onde o caso foi transferido em 2014. A delegada Maria Helena do Nascimento, que qualificou o desaparecimento de Lucas como enigmático, chegou e enviar ofícios a escolas e unidades de saúde de todo o país com informações sobre o garoto, mas ainda não obteve êxito em encontrá-lo.
Drama
Lucas, que é carioca e mudou-se para São Carlos com a mãe, desapareceu na manhã do dia 21 de junho de 2008, quando brincava na rua com o irmão Caio, que na época tinha 8 anos. O pai, que atualmente tem 65 anos, é aposentado e mora com mais 3 filhos na Barra da Tijuca (RJ), disse que vive um drama pessoal, mas que tenta ao máximo não envolver a nova família.

“Contratei uma terapeuta para acompanhar o meu filho que convivia com o Lucas. Atualmente, ele tem uma vida normal, mas não quero fazer com que isso seja um drama na vida da nossa família, então trato como um sentimento apenas meu”, contou.
Eu continuo na busca. Quando alguém me liga e passa informações, vou procurar, vou a programas de televisão, mas não posso fazer nenhuma loucura"
Antônio Carlos Ratto, engenheiro aposentado
Ratto tem esperança de que a sociedade o ajude a encontrar o garoto que hoje estaria com 12 anos. “Eu continuo na busca. Quando alguém me liga e passa informações, vou procurar, vou a programas de televisão, mas não posso fazer nenhuma loucura”, disse.
Relação com a mãe
Ratto conheceu a ex-mulher em São Carlos, enquanto morava na casa da mãe. “Eu ficava 15 dias sem trabalhar, então podia morar em qualquer lugar. Sou muito ingênuo, não vejo maldade em ninguém e acabei me prejudicando”, relatou.

Segundo ele, a família da ex-mulher era desestruturada. “Agora parece que a família está ficando certa, o pessoal está frequentando a igreja, mas na época ela se envolveu com traficantes do Rio de Janeiro, a polícia chegou até a prender esse pessoal, mas nenhuma informação foi obtida. Isso foi bem planejado, não deixaram uma pista”, disse.
Pai realiza homenagens para filho em sua rede social constantemente  (Foto: Arquivo Pessoal)Pai constantemente realiza homenagens para
o filho em rede social (Foto: Arquivo Pessoal)
Dia do desaparecimento
No dia em que o filho desapareceu, Ratto estava em Cabo Frio. Ele recebeu a ligação de um dos irmãos da ex-mulher informando sobre o caso um dia antes de embarcar na plataforma de petróleo em que trabalhava.
Ele viajou para São Carlos e, ao chegar, soube que os familiares tinham registrado um boletim de ocorrência no plantão policial, mas que não chegaram a ir à delegacia. “Era um sábado, acho que não deram importância para o caso. Fiquei 40 dias de licença da empresa para ficar procurando o Lucas”.
Investigações
A Delegacia de Homicídios do Rio de Janeiro também investigou o paradeiro do garoto. O pedido para que a polícia do outro estado entrasse no caso partiu do delegado de São Carlos que comandava o inquérito, Gilberto de Aquino.
Pai reclama de demora em investigações e joga sua esperança na sociedade (Foto: Reprodução EPTV)Pai reclama de demora em investigações e lança
sua esperança na sociedade (Foto: Arquivo/EPTV)
A família do garoto morou no Rio de Janeiro, por isso a polícia buscou apoio. A mãe do garoto foi ouvida pela polícia fluminense na época do desaparecimento.

Além da recompensa, foram distribuídos 3,8 mil cartazes pela cidade. Eles foram colocados no interior dos ônibus que fazem o transporte urbano, em terminais de passageiros e em locais de grande concentração de pessoas.

Um dos filhos do engenheiro usou a internet para divulgar a foto do irmão desaparecido e até um carro de som circulou pela periferia da cidade na época pedindo informações.
Lembrança do filho
Em março deste ano, o pai postou um texto em sua rede social falando sobre a esperança de encontrar o filho e sobre uma lembrança que recentemente encontrou em um livro.
Lembrança que o pai encontrou em livro  (Foto: Arquivo Pessoal)Lembrança que o pai de Lucas encontrou em livro
e motivou texto na internet  (Foto: Arquivo Pessoal)
''Hoje eu abri um livro. Não sei exatamente por que, dentre tantos de minha biblioteca, escolhi aquele. Quando o abri, na primeira página, havia um desenho e o seu nome.
Recordei-me do dia em que comprei a obra. Era um lançamento e muito caro.
A capa encadernada, folhas de papel de primeiríssima qualidade, um autor famoso. Coloquei-o sobre a mesa da biblioteca, para ler um pouco mais tarde. Lembro-me que, quando descobri que você escrevera ali o seu nome, o chamei. Eu estava muito zangado. O livro era meu e você escrevera seu nome nele e fizera um desenho. Chamei-o para lhe dar uma grande bronca. Você veio sorrindo e, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, vendo que eu segurava o livro em minhas mãos, me disse: E aí, papai, gostou do coração que eu desenhei no seu livro? É o meu coração, papai... para você".
Procedimentos
Por meio da Secretaria de Segurança Pública (SSP), a Polícia Civil informou que, quando ocorre o desaparecimento de qualquer pessoa, a primeira providência deve ser o registro imediato do boletim de ocorrência.
Caso do menino que desapareceu em São Carlos continua sem novidades (Foto: Reprodução EPTV)Caso do menino que desapareceu em São Carlos
ainda é investigado (Foto: Reprodução EPTV)
Cabe salientar que não é verdadeiro que seja necessário aguardar 24 horas para se registrar o boletim de desaparecimento. O B.O. pode ser registrado pessoalmente, por qualquer pessoa, em qualquer delegacia, pela Delegacia Eletrônica ou ainda em uma companhia da Polícia Militar.
Após o registro, uma fotografia da pessoa desaparecida pode ser enviada via e-mail ou entregue pessoalmente. Com isso, é instaurado Procedimento de Investigação de Desaparecido (PID). No caso de desaparecimento de crianças até 12 anos incompletos, é aberto inquérito policial para investigar o caso. A partir do registro do desaparecimento, os dados passam a ser inseridos no cadastro do Banco de Dados da Polícia Civil de São Paulo para a realização das buscas.
A polícia orienta que, caso o desaparecido, menor ou maior de idade, retorne ou a família o reencontre, a polícia deve ser comunicada imediatamente para que seja dada a baixa no sistema. O cidadão que tiver alguma informação que contribua com o trabalho policial pode fazer a denúncia por meio do número 181.
Do G1

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